O papel do farmacêutico na revolucionária terapia CAR-T Cell contra o câncer.

Recentemente, o Fantástico, da Rede Globo, chamou atenção ao mostrar uma reportagem sobre a CAR-T Cell - Terapia com Receptores de Antígeno Quimérico, uma terapia celular que revoluciona o tratamento do câncer. É um novo tratamento que usa as próprias células de defesa do sistema imunológico do paciente para combater alguns tipos de câncer. Trata-se de um medicamento preparado com as células de defesa (linfócitos T) extraídas do paciente e modificadas em laboratório para que, ao serem devolvidas ao paciente, possam combater a doença.

Segundo o farmacêutico-pesquisador do Instituto do Câncer do Ceará e professor do ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Nelson Belarmino, na CAR-T Cell as células de defesa - linfócitos T - dos pacientes, são submetidas a uma modificação genética para incluir um novo gene que contém uma proteína específica (um receptor de antígeno quimérico - CAR) que direciona as células T para atingir e destruir células que têm o antígeno CD-19 na superfície.

De forma didática, Belarmino explica que a CAR-T funciona como um sistema chave-fechadura, uma vez que o mecanismo de ação se dá quando o receptor (quimérico) do linfócito encontra as células tumorais que expressam o antígeno CD-19, sendo esse linfócito ativado e, a partir de então, serão capazes de reconhecer o tumor e atacá-lo de forma contínua e específica.

“A terapia CAR-T começa com a coleta de células T do paciente. Essas células são então geneticamente modificadas em laboratório para produzir um receptor de antígeno quimérico (CAR), que é uma proteína que permite às células T reconhecerem e atacarem células cancerígenas específicas. Uma vez modificadas, as células T são cultivadas em grandes quantidades e, em seguida, reintroduzidas no paciente. No corpo dele, as células T modificadas com CAR podem reconhecer e atacar seletivamente as células cancerígenas, levando à destruição do tumor”, detalha o farmacêutico, mestre em Farmacologia, especialista em Oncologia e Abordagem Multidisciplinar e professor do ICTQ, Leonardo Daniel Mendes.

A terapia, de acordo com Mendes, tem mostrado resultados promissores em alguns casos de câncer refratário ou recorrente, proporcionando uma nova opção de tratamento para pacientes que não responderam a outras terapias convencionais. No entanto, é uma abordagem relativamente nova e ainda está sendo estudada em ensaios clínicos para determinar sua eficácia a longo prazo e os possíveis efeitos colaterais.

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“Esses linfócitos T modificados geneticamente serão, a partir desse momento, chamados de CAR-T Cells, que passam a ser capazes de reconhecer e matar as células tumorais. Uma das vantagens promissoras para esse tratamento é de ter a persistência por um longo período dessas células modificados, possibilitando assim um melhor controle do crescimento tumoral a longo prazo e potencialmente a cura da doença, que anteriormente não foi alcançada utilizando outra terapêutica, seja quimioterapia, radioterapia ou mesmo transplante, permitindo assim uma nova chance de tratamento daquele paciente que iria para tratamento paliativo”, atesta Belarmino.

Os pacientes elegíveis para terapia CAR-T são, via de regra, aqueles que têm determinados tipos de câncer que não responderam a tratamentos convencionais ou que recidivaram após tratamentos anteriores. Mendes ressalta que as condições específicas podem variar de acordo com o tipo de tumor e os critérios de elegibilidade estabelecidos pelos médicos e pelas instituições médicas. No entanto, quase sempre, os pacientes elegíveis para terapia CAR-T podem incluir:

  • Linfomas B de células grandes recorrentes ou refratários;
  • Leucemia linfoblástica aguda (LLA) recorrente ou refratária;
  • Linfoma de células do manto recorrente ou refratário;
  • Linfoma folicular recorrente ou refratário;
  • Outros tipos de linfoma ou leucemia que expressam antígenos-alvo para os quais as terapias CAR-T estão sendo desenvolvidas.

“Os pacientes também devem atender a outros critérios específicos, como estar suficientemente saudáveis para tolerar o procedimento, ter uma contagem de células T adequada para a coleta e ser capazes de participar do acompanhamento necessário após o tratamento. É importante salientar que a elegibilidade para terapia CAR-T é determinada em consulta com uma equipe médica especializada, e as decisões são baseadas em uma avaliação completa do estado de saúde individual do paciente, do tipo e estágio do câncer, entre outros fatores”, fala Mendes.

Atuação do farmacêutico na terapia CAR-T

Na terapia CAR-T, por envolver medicamentos, os farmacêuticos têm a responsabilidade de contribuir para o uso racional dos mesmos, assumindo a responsabilidade técnica, conhecimento do potencial de reações, armazenamento, conservação e dispensa, assim como deverá ser estabelecido um sistema eficaz e seguro que garanta uma correta administração ao doente.

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Belarmino destaca que é um desafio contínuo lidar com medicamentos geneticamente modificados, devido a sua extrema complexidade, o que torna um constante desafio e necessidade de qualificação técnico-científico, principalmente pela inovação do medicamento-tratamento.

“É importante que os pacientes estejam sob cuidados farmacêuticos especializados durante a terapia CAR-T para monitorar e gerenciar quaisquer efeitos colaterais que possam surgir. A equipe médica e multiprofissional geralmente tem planos de tratamento específicos para lidar com esses efeitos colaterais, o que pode incluir o uso de medicamentos de suporte, terapias de controle de sintomas e medidas de suporte intensivo, conforme necessário”, diz Mendes.

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Listamos a seguir, de acordo com Mendes, as principais funções desempenhadas pelo farmacêutico na terapia CAR-T:

  • Preparação e manipulação do produto: os farmacêuticos desempenham um papel importante na preparação e manipulação das células T do paciente modificadas geneticamente com o receptor de antígeno quimérico (CAR). Eles garantem que o produto seja preparado de acordo com os padrões de qualidade e segurança necessários.
  • Armazenamento e distribuição: os farmacêuticos são responsáveis pelo armazenamento adequado do produto CAR-T e sua distribuição para as unidades de tratamento. Isso envolve garantir que as condições de armazenamento sejam mantidas para preservar a viabilidade e a eficácia das células T modificadas.
  • Educação do paciente: os farmacêuticos desempenham um papel importante na educação do paciente sobre a terapia CAR-T, incluindo os potenciais benefícios, riscos e efeitos colaterais associados ao tratamento. Eles fornecem informações detalhadas sobre o que esperar antes, durante e após o procedimento.
  • Gerenciamento de efeitos colaterais: os farmacêuticos monitoram de perto os pacientes durante e após a terapia CAR-T para identificar e gerenciar os efeitos colaterais associados ao tratamento, como síndrome de liberação de citocinas, neurotoxicidade e citopenias. Eles colaboram com a equipe médica para ajustar a terapia de suporte, como medicamentos para controle da dor, antibióticos e terapia de suporte imunológico, conforme necessário.
  • Monitoramento da resposta ao tratamento: os farmacêuticos acompanham a resposta do paciente à terapia CAR-T por meio de testes laboratoriais e avaliações clínicas. Eles colaboram com a equipe médica para ajustar o plano de tratamento conforme necessário com base nos resultados dos testes e no progresso do paciente.
  • Documentação e registro: os farmacêuticos são responsáveis pela documentação precisa de todas as etapas do processo de terapia CAR-T, incluindo preparação, administração, monitoramento de efeitos colaterais e resposta ao tratamento. Isso ajuda a garantir a conformidade com os regulamentos e padrões de prática clínica.

“Por se tratar de uma terapia inovadora e limitada a alguns centros de tratamento em nosso País, alguns farmacêuticos conseguem sair na vanguarda desse conhecimento, pelo fato de estarem inseridos nesses grandes centros que já utilizam o tratamento com CAR-T Cell, no entanto o maior desafio para a categoria farmacêutica ainda é a falta de conhecimento dessa tecnologia, o que faz necessária a busca urgente pelo conhecimento, uma vez que nós pesquisadores acreditamos que esse tratamento surgiu para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e, por que não, a cura”, garante Belarmino.

Para ele, que é farmacêutico-pesquisador do Instituto do Câncer do Ceará e professor do ICTQ, a terapia celular CAR-T Cell é a mais avançada e promissora ferramenta do arsenal médico no combate a certos tipos de câncer de sangue, como leucemia e linfoma. Belarmino acredita que com o avançar dos estudos que estão em desenvolvimento, essa tecnologia possa ser aprovada para outros tipos de tumor, beneficiando um maior número de pacientes.

No Brasil, a CAR-T Cell vem sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan, pela Universidade de São Paulo e pelo Hemocentro de Ribeirão Preto, sediados nas cidades de São Paulo e Ribeirão Preto.

“Um dado importante e animador e de acordo com a comunidade médica é que houve uma considerável melhora na resposta ao tratamento, pois a taxa de sucesso para a remissão dos tumores ficava entre 30% e 40% dos pacientes; hoje, a eficácia supera 80%. Ou seja, 8 em cada 10 pacientes com leucemia ou linfoma em estágio terminal que se submetem à terapia CAR-T Cell não apenas sobrevivem, como apresentam remissão completa dos tumores. Dado que corrobora com a necessidade urgente da inserção do farmacêutico em ambiente de pesquisa, desenvolvimento de tecnologia, tratamento inovador, além do conhecimento das particularidades da terapia com CAR-T Cell”, enfatiza Belarmino.

Perspectivas e avanços

Apesar de no exterior já ser uma técnica antiga, o Brasil está nos primeiros pacientes ainda em infusão, o que, segundo Mendes, gera um desconforto em toda equipe por não saber muito bem o que poderá acontecer. Sendo assim, o professor reforça ser essencial a atualização constante de toda equipe, buscando sempre conhecer o cenário da terapia.

“No geral, o futuro da terapia CAR-T é emocionante e promissor e há uma esperança de evoluir rapidamente com avanços contínuos na pesquisa e desenvolvimento, com isso, há perspectivas de expandir seu uso para uma variedade de cânceres e aprimorar sua segurança, eficácia e acessibilidade por meio de avanços contínuos na pesquisa, desenvolvimento e prática clínica. O farmacêutico estará inserido em todos os processos, desde a pesquisa clínica, fabricação, infusão e acompanhamento, dessa maneira, é um profissional chave no sucesso de uma possível terapia na cura dos pacientes”, complementa Mendes.

Nas próximas semanas, o ICTQ promoverá um Farma Class exclusivo sobre a terapia CAR-T, conduzido pelo professor Leonardo Daniel Mendes. O evento on-line levará conhecimento e informações detalhadas para toda a classe farmacêutica sobre o tratamento inovador e promissor.

“É essencial que o farmacêutico, mesmo aquele que não trabalhe na área hospitalar, conheça os avanços da saúde, e, a CAR-T Cell é, talvez, a técnica mais promissora criada para cura de diversos tumores. O Farma Class do ICTQ será bem rico em conhecimento, mergulhando no mundo da ciência e mostrando que nós farmacêuticos somos essenciais para uma terapia segura e eficaz”, afirma Mendes.

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